Empresários do setor apostam no consumo maior das chamadas linhas especiais
Rogério Verzignasse
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
rogerio@rac.com.br
O vinagre já era conhecido nos primórdios da civilização. O produto simples, fabricado a partir da fermentação, sempre foi usado para temperar e conservar alimentos. Garante sabor especial a uma simples salada e, por ser barato, é consumido por povos do planeta inteiro. Só no Brasil, entram nas gôndolas dos supermercados, anualmente, nada menos que 174 milhões de litros. Nos países europeus, o consumo é três vezes maior. A diferença é que, por aqui, 80% das vendas é proveniente do vinagre de álcool. No Primeiro Mundo, o vinho e as frutas são as principais matérias-primas. Os fabricantes lucram com o balsâmico, por exemplo, presente nas receitas dos chefs mais exigentes. De olho na culinária sofisticada, os empresários brasileiros aprimoram a linha de produção do “vinagre de grife”.
De acordo com a Associação Nacional das Indústrias de Vinagre (Anav), os produtos de alto valor agregado representam apenas 10% do faturamento do setor. Mas é um segmento que não para de crescer. Os varejistas percebem, entre os consumidores, que cresce sem parar a exigência por qualidade.
De acordo com Bianca Borim, presidente da associação, e diretora da Vinabom, empresa sediada em Várzea Paulista, o novo hábito de consumo é notado há cerca de uma década, período que coincidiu com a estabilização econômica brasileira. E a mudança de comportamento fez o setor pensar grande. Hoje, nada menos que 90% das indústrias fornecem vinagres especiais ao mercado.
Um exemplo claro da diversificação produtiva chega da centenária Castelo Alimentos, a mais importante fabricante de vinagres da América Latina. A empresa sediada em Jundiaí, dona de um faturamento anual da ordem de R$ 50 milhões, investe pesado, há uma década, nas linhas especiais, com tecnologia de produtos, modernização de equipamentos e treinamento de mão de obra. A companhia, que já detém o controle de 30% do mercado nacional de vinagre, decidiu entrar na disputa pelo mercado externo.
E, como o cliente lá de fora é exigente, do complexo fabril do bairro Bom Retiro, em Jundiaí, saem , além dos vinagres tradicioanis, os suaves, especiais (de arroz e maçã), aromatizados (limão e hortelã) ou com sabores (framboesa e maracujá). Para abastecer a gastronomia sofisticada, foi criado o vinagre de mesa, com embalagens especiais que podem ser colocadas ao lado dos pratos mais bonitos.
De acordo com o diretor superintendente da empresa, Marcelo Cereser, as linhas especiais não param de ganhar espaço. A carteira de clientes já relaciona parceiros nos Estados Unidos, Cuba, Uruguai, Moçambique, República Dominicana e Japão.
Europa
Mas as nações da Europa são, de fato, o alvo principal do setor. De acordo com a Anav, a média de consumo brasileiro de vinagre é de apenas 0,8 litro por habitante ao ano. No Velho Mundo, o índice chega a 1,8 litro/habitante/ano. De acordo com a empresários, o fenômeno tem explicação. Enquanto por aqui o produto serve basicamente como tempero, os europeus exploram todas as suas potencialidades. O vinagre é usado até em afazeres domésticos: limpa, desinfeta, aviva cores, desengordura, devolve o brilho de metais, é neutralizador de odores.
“Trata-se de uma cultura que o brasileiro ainda não tem. O vinagre ainda é associado exclusivamente ao consumo como alimento”, fala Cereser. Na sua opinião, para alavancar o consumo brasileiro, o setor deve acreditar no sucesso de nichos de consumo, clientes de maior poder aquisitivo, público da chamada linha premium. O objetivo é revelar ao mercado que o vinagre é útil para muito além da prosaica salada: é matéria prima de sobremesas e pratos sofisticados.transfer news
SAIBA MAIS
A palavra vinagre vem do francês vinagre, que significa “vinho azedo”. Trata-se de um produto obtido a partir de duas fermentações, uma alcoólica e uma acética. A primeira, transforma o açúcar em álcool. A segunda, adiciona ao produto o ácido acético, mistura química elaborada a partir de uma bactéria chamada acetobacter. No Brasil, as fábricas dispensam a fermentação alcoólica, primeira etapa do processo. As linhas de produção já recebem álcool e vinho prontos. A matéria-prima é misturada à água e, para fermentar, passa por reatores. O vinagre tem sabor diferenciado em cada parte do mundo, dependendo basicamente da origem do álcool. Por aqui, a principal matéria-prima é a cana-de-açúcar. Mas há países que fazem álcool com leguminosas e raízes (como a batata, a beterraba e a mandioca); frutas (como a maçã, o caqui e o kiwi); e cereais (como arroz e cevada).
OS NÚMEROS
200
MILHÕES DE REAIS
É o faturamento anual do setor vinagreiro brasileiro
24
EMPRESAS VINAGREIRAS
Associadas à Anav concentram a produção de 80% do vinagre brasileiro. O principal polo produtor brasileiro fica na região de Jundiaí, onde estão sediadas as empresas Castelo, Toscano, Palhinha e Vinobom
Empresa lança lista diversificada de produtos
Palhinha abastece mercado com compostos de maçã, arroz e limão
A Palhinha, outra tradicional fabricante de vinagre com sede em Jundiaí, também investe na diversificação dos produtos, abastecendo o mercado varejista com uma linha especial de vinagres compostos de maçã, arroz, limão e alho, e do balsâmico. O superintendente Ambrósio Galvão explica que o segmento historicamente lucra mais com a chegada do Verão. As vendas crescem 15% ao mês, por conta do consumo maior de salada nos meses mais quentes. Ele sabe que os novos hábitos de consumo, que valorizam a gastronomia refinada, são outro motivo para motivar o segmento. Por isso, ele defende que o governo abra novas linhas de crédito às empresas de qualquer porte, para que elas tenham como investir na modernização.
Na opinião dele, o empresário não seria o único beneficiado. Em primeiro lugar, diz, o consumidor, vai ter na mesa produtos de maior qualidade, pratos cada vez mais elaborados. Além disso, a economia vai ser movimentada com treinamento de pessoal, aquisição de equipamentos, abertura de mais vagas de emprego direto ou indireto. A ação integrada de empresários unidos em associação, diz, é importante para implantar ações de interesse coletivo estimular o consumo. “A própria Palhinha passou a fornecer ao mercado o vinagre balsâmico em embalagens pet, mais econômicas, de 250ml, visando tornar o produto acessível às classes com menor poder econômico”, explica. (RV/AAN)